Cracolândia: estrangeiros na comunicação com dependentes
Eles deixaram as casas de costura, os subempregos e até a falta de serviço para formar uma equipe diferenciada entre os agentes que atuam na região central de São Paulo. Bolivianos, africanos, chilenos e peruanos - todos com a documentação em ordem - fizeram provas de seleção para serem agentes de saúde e olhar para quem quase não recebe olhares do poder público. Tentam reverter uma situação que muitos viveram.
O peruano Félix Rafael Morales cuida dos dependentes químicos, mesmo com os gritos de recusa que recebe e os olhares desconfiados depois de, em "portunhol", dizer que pode oferecer ajuda - em suas andanças pelo centro paulistano ele não faz distinção de atendimento, seja imigrante ou não. A boliviana Nelly Rojas Mendonça também procura vencer a insegurança dos idosos (que ela não descuida nem por um minuto) que acabam em albergues, após anos procurando no Brasil o que não conseguiram encontrar em seus países de origem. Zenon Ajata Mamani, que também é da Bolívia, virou membro do programa de saúde para tentar acabar com a sinfonia de tosses provocadas pela tuberculose, tão frequente nos cortiços que ele visita diariamente.
Os três agentes de saúde ouvidos pela reportagem reúnem as histórias que podem servir de trampolim para a dependência química. "Eles passaram por situações difíceis em seus países de origem e, quando chegam aqui, encontram mais obstáculos. A droga se apresenta como uma sensação de alívio, um momento de bem-estar que eles não encontram em outros lugares", avalia a coordenadora municipal de Saúde da região centro-oeste de São Paulo,
Márcia Gadargi, onde é atendido o maior número de imigrantes em São Paulo. "Os usuários imigrantes estão sempre sozinhos, não fazem parte de nenhum grupo e o primeiro desafio para conseguir atrai-los para o tratamento é estabelecer um vínculo com eles", diz Márcia. Contar com a diversidade de nacionalidades entre os agentes é tentar fazer com que eles sejam peças-chave para reverter, ao menos em um segmento que compõe a cracolândia, a estatística que tem sido recorrente nas operações realizadas pela Prefeitura.
Desde julho, foi montada a Operação Centro Legal no local, envolvendo a Secretaria Municipal de Saúde e as Polícias Civil e Militar. Segundo balanço divulgado sobre os primeiros 40 dias de ação conjunta, o atendimento médico oferecido a usuários de drogas na cracolândia foi recusado em 93% das 7.730 abordagens feitas pelos agentes. As prisões realizadas (foram mais de 50) também não conseguiram impedir o tráfico, sustentado não apenas pela venda de pequenas quantidades aos usuários locais, como para quem vem de fora do mundo da cracolândia buscar droga.(AE)
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